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Trimestral | Nº 04 - 2019
Investigação & Divulgação

CIDEHUS
Museus de história natural e centros de ciência hoje: meios de comunicação em massa?

Museus de história natural e centros de ciência hoje: meios de comunicação em massa?

Atualmente percebe-se que a sociedade num geral não acompanhou o esforço de melhoria de divulgação do conhecimento efetuado. Por muitas vezes, mais acesso ao conhecimento científico através da divulgação científica não significa mais interesse perante a ciência.

Sendo assim, a cultura, por muitas vezes, pode ser o melhor meio de chamar a atenção para alguns problemas que a ciência já reconhece. Pode-se ter a cultura científica como ferramenta estratégica para movimentar o mercado financeiro e entreter a maior quantidade possível de pessoas.

Sabe-se que nos nossos dias há o enaltecimento de uma cultura global - denominada por alguns autores de “cultura-mundo” (Lhosa, 2013, p. 23). O autor explica que a ausência de fronteiras nas questões científicas, tecnológicas e de comunicação, fazem com que ocorra uma proximidade entre culturas, o que pode gerar maiores aceitações em diferentes tradições e crenças, além de uma maior facilidade no entendimento de diferentes linguas. Esse tipo de cultura, diferentemente do que se esperava, transformou-se na denominada “cultura de massas”, que oferece ao público diversão e prazer, possibilita evasão fácil e acessível para todos, sem necessidade de formação alguma, sem referentes culturais concretos e eruditos.

Alguns museus de história natural e centros de ciência acabam podendo ser comparados a locais de consumo de massas, fazendo parte de uma vulgar indústria cultural atual, onde apenas a mudança de comportamento imediata do público é estimulada com aparatos tecnológicos de interatividade.

Com cada vez mais preocupações, diga-se novos desafios, apresenta-se então, um novo cenário para os museus de história natural e centros de ciências, uma gestão de museus mais complexa, que há algum tempo se intensifica com o uso de novos meios e novas tecnologias de comunicação, uma vez que estas instituições “além de serem um lugar de curiosidade, precisam tornar-se também um lugar de realidade, de encontros, de reflexão e de confrontos entre conhecimentos diversos, inclusive e principalmente para essas famílias habituadas à alta tecnologia em seu cotidiano” (Nascimento and Ventura, 2001, p. 130). Para além disso, a intensificação da necessidade de atrair cada vez mais público, pois “a sedução do público passa a ser um elemento importante da ação, onde ao mesmo tempo que seduz-se, coloca-se a ciência e tecnologia em perspectiva com suas dimensões históricas, económicas e artísticas” (ibidem , p. 131).

No sentido de tentar obter sucesso ao desafio das novas tecnologias e de uma maior atratividade para o público, os museus de história natural e centros de ciência mobilizaram-se, e continuam a mobilizar-se, alterando muitas coisas enquanto instituição: promoção de novas experiências, produções alternativas ou de vanguarda no próprio espaço expositivo, na biblioteca ou no auditório; a criação de serviços e espaços de lazer adicionais, como restaurantes, cafeterias e lojas; além de utilizar técnicas de publicidade e marketing  para promover-se e de usá-las também na própria exposição e nas atividades culturais e lúdicas, assim transformando seu espaço de atuação, através de um diálogo eficiente e interativo, propício ao conhecimento e à diversão, numa fonte maior de geração de receita.

A divulgação atual acompanhada do uso da tecnologia, carregada de propagandas publicitárias e marketing  que apelam a um certo consumo - utilizada de forma massiva por alguns museus -, recebe crítica: redução a uma adestração em massa sobre alguns temas/conceitos (Barbuy, 2010).

O fato é que uma mudança é necessária, principalmente quanto a forma de se fazer a divulgação científica, permitindo com que a mesma seja instigante de modo que as pessoas possam se interessar pela ciência a ponto de buscarem informações além das mídias mais populares, recorrendo a artigos e livros científicos que possam discutir os conceitos reais e sem distorções provocadas pela espetacularização.

A discussão sobre os museus e centros de ciência serem espaços integradores de conhecimentos é fundamental, pois no mundo do espetáculo, os eventos ocorrem de forma isolada, onde não há inter-relação entre assuntos (e.g.  a dinâmica interna da Terra e seu importante papel no aquecimento global), possibilitando um falso julgamento de conhecimento em ambas as áreas, o que também diverge bastante das bases científicas atuais.

O que tem que existir nessas instituições de divulgação científica, por muitas vezes apelidadas de “áreas de cultura de massas”, é uma análise entre a relação do que se propõe comunicar, o meio pelo qual se comunica – que interfere inevitavelmente na transmissão da mensagem – e aquele que recebe e interpreta a informação, a partir de suas próprias experiências culturais, ou seja, há um potencial muito grande a se aproveitar.

Referências bibliográficas

Barbuy, H. (2010). A comunicação em museus e exposições em perspectiva histórica. In : Benchetrit, S.F.; Bezerra, R.Z.; Magalhães, A.M. (Eds).  Museus e Comunicação: exposições como objeto de estudo ( pp. 113-129). Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional.

Llosa, M. V. (2013). A civilização do espetáculo: uma radiografia de nosso tempo e de nossa cultura. Ivone Benedetti (Trad). Rio de Janeiro: Objetiva.

Nascimento, S.S.; Ventura, P.C.S. (2001). Mutações na construção dos Museus de Ciências. Pro-Posições , 34 (12), 126-138.