Orientação: Miguel Reimão Lopes da Costa & João Gabriel Candeias Dias Soares
A presente investigação incide na caracterização das estruturas arquitetónicas características do Alentejo litoral – os montes – procurando estabelecer relações da sua génese e forma com o território, numa perspectiva simultaneamente analítica e propositiva. O território é aqui entendido, não apenas de um modo restringido às características biofísicas e climáticas, mas também enquanto resultado de diversos processos de antropização que ocorrem ao longo da história, dando-se especial relevância à evolução do sistema agrário e à compartimentação da propriedade, que está na origem de muitos montes.
Perante a problemática da desertificação e do abandono dos lugares e da arquitetura tradicional neste território do Alentejo litoral, procurar-se-á, refletir-se sobre a salvaguarda, conservação e regeneração do património construído, preservando a sua identidade, cultura, valor social; e fazer-se o reconhecimento dos elementos relevantes na arquitetura vernacular do monte alentejano, considerando as transformações da paisagem, as relações espaciais, a morfologia dos elementos construídos, os materiais e as técnicas construtivas.
O objetivo será o de contribuir para o conhecimento do património rural agrícola construído, já considerado noutros estudos, mas comportando uma abordagem tipológica e morfológica restringida aqui a parte do Alentejo Litoral. Pretende-se propor uma análise crítica correspondente a um momento na história do sistema agrário e do património construído no território que visa entender as suas dinâmicas e respetivas influências na arquitetura vernacular, desde a sua génese até hoje. Considera-se também uma dimensão propositiva através da investigação em projecto, em que o pressuposto projectual decorre da leitura e interpretação do objecto.
Coloca-se, por um lado, uma hipótese de leitura dos montes através de um corte morfológico que articula três sistemas no território (costa, serra e peneplanície), onde se identificam pontos (montes) e se reconhecem linhas (relações). Por outro lado é colocada a hipótese de um olhar para o território a partir dos montes, que constituíram e constituem elementos estruturantes na construção do território. Trata-se, em ambos os casos, de uma leitura morfológica para uma abordagem estratégica.
Desta investigação em projeto resulta um momento propositivo que corresponderá à reflexão acerca da atuação no património rural, frágil e despovoado dos montes, procurando compreender como é que os montes podem ter um papel num território de produção. “O que fazer com o legado dos montes?”.
Mais do que soluções a partir de um programa específico, é desenvolvida uma abordagem sistemática e um horizonte de possibilidades, enunciado em seis linhas – Linha de litoral, linhas de água, linhas de festo, linhas de vento, linhas de velocidade e linhas de distribuição – resultantes da leitura que se faz do território a partir do monte, procurando obter uma visão estratégica para o território e para o legado dos montes. Ulteriormente é feita uma abordagem crítica às possibilidades avançadas, de modo a enquadrar três propostas concretas – um ensaio em pontos baixos, um ensaio em pontos altos e um ensaio em pontos médios – a partir do âmbito disciplinar da arquitetura e recorrendo à técnica da cenarização. As propostas são estruturadas e apresentadas com elementos gráficos e descritivos próprios na representação em arquitetura.
Palavras-Chave: monte, arquitetura vernacular, paisagem, Alentejo litoral, cenário