Anthony Burke| Investigador do Centro de Química de Évora
Novas investigações no desenvolvimento de moléculas para o tratamento da doença de Alzheimer

Nos últimos dez anos, a doença de Alzheimer – uma patologia neurológica que resulta na perde das funções do cérebro, como a memória – tornou-se numa das doenças crónicas com maior incidência a nível mundial. Atualmente há milhões de pessoas com a doença e por causa de envelhecimento da população mundial o número vai continuar a subir. Apesar de grande investimento já feito para descobrir uma cura para a doença de Alzheimer, até agora não existe um medicamento eficaz para aniquilar completamente ou diminuir a progressão da doença. Todavia, existem alguns fármacos no mercado que fornecem alívio dos sintomas, como por exemplo, tacrina, donepezilo (Aricept®) e rivastagmina (Exelon®). São conhecidos como inibidores de colinesterase (ChEs).  Colinesterases são enzimas responsáveis para a hidrólise (destruição) da acetilcolina (ACh) um neurotransmissor essencial para manter as funções normais do cérebro.  Os doentes com a doença de Alzheimer têm níveis baixos da ACh no cérebro e por isso são administrados inibidores de ChE. Infelizmente, estes fármacos são caros, ou têm efeitos secundários maléficos e por isso há uma necessidade de ter novos inibidores de ChEs, mais eficazes, mais baratos, mais fáceis de produzir utilizando processos mais sustentáveis e mais seguros para o organismo humano.  

Com o objetivo de descobrir novos fármacos mais eficazes para a inibição de ChEs com melhores propriedades do que os no mercado, um grupo de investigadores na Universidade de Évora (de vários departamentos/centros, incluindo o dep. De Química (DQ), Centro de Química de Évora (CQE) e Hercules) liderado por Professor Anthony Burke (DQ/CQE) iniciou um programa de investigação financiado por fundos regionais (InAlentejo-FEDER) para produzir novos inibidores ChEs utilizando tecnologias de ponta na área de descoberta de fármacos. O projeto (conhecido como INMOLFARM) foi realizado por uma equipa multidisciplinar que incluiu químicos sintéticos, químicos medicinais, químicos computacionais, bioquímicos e farmacêuticos. Alem disto, tinha como parceiro um grupo colaborador do instituto Max Planck da Podsdam, Alemanha, especialistas na tecnologia de química de fluxo contínuo, uma tecnologia de química atualmente considerada o futuro de produção industrial de fármacos. Entre estes especialistas houve vários alunos de pós-doc, doutoramento, mestrado e bolseiros de investigação. O projeto durou 30 meses, e foi um sucesso para várias razões, alem de ter conduzido a publicação de muitos artigos em revisitas internacionais de destaque, vários pedidos de patentes, apresentações em congressos, teses de doutoramento, mestrado etc, foram sintetizadas algumas moléculas que demonstraram bons níveis de inibição de butirilcolinesterase (um tipo de ChE responsável para a hidrólise de ACh em doentes com a doença mais avançada) quer in vitro  (placa de petri) quer in vivo  (em ratos). No contexto de comercialização destes resultados, já houve três pedidos de patente internacional (Europa e os EUA) que atualmente estão em fases de avaliação muito avançadas, e de facto a tecnologia englobada numa das patentes, está atualmente a ser comercializada com o apoio da empresa spin-out  Chiratecnics (uma das primeiras spin-outs  da Universidade de Évora). 

Pretende-se continuar com esta linha de investigação, através de fundos regionais e europeias, com o objetivo de obter moléculas ainda mais potentes para travar os sintomas e eventualmente oferecer uma cura para esta doença crónica e alarmante.

 Anthony Burke| Investigador do CQE